Há amizades difíceis de compreender

Tenho uma amiga, aquela que considerei durante muito tempo a minha melhor amiga. Infelizmente, não mantenho o contacto normal há mais de um ano.
Somos amigas desde a primária. Houve um interregno pela Escola Preparatória, porque ficamos em turmas diferentes. Mas tudo voltou "ao normal" no secundário.
Considerava-nos inseparáveis, mesmo depois de eu ir para a Faculdade em Lisboa e ela ter ficado cá. Falávamos quase todos os dias.
Ela ficou cá, porque a vida pregiu-lhe uma partida: engravidou ainda estavamos no 12.º ano. Teve que casar, mas mesmo assim conseguiu ir para a Universidade e fazer uma licenciatura.
Tanto que me orgulhava dela. Enchia-me de orgulho sempre que contava isto a alguém, porque não é facil conseguir-se esta proeza quando se tem um bébé.
O tempo passou, os anos passaram, e nós estavamos cada vez mais unidas. Mais ninguém sabia tanto da minha vida como ela e ninguém conhecia ao pormenor a vida dela como eu. Considerava-a uma irmã.
Há cerca de um ano e meio, uma série de coisas aconteceram, que não vou reproduzir aqui, e eu mantive-me ao seu lado. Defendendo-a, apoiando-a, até chorando com ela.
Mas, de repente, alguém me liga a contar que tudo, tudo, mesmo tudo o que ela me tinha contado não era verdade. Que era tudo uma mentira. Uma farsa. Que ela tinha enganado uma série de pessoas, eu estava envolvida em histórias que nem eu sabia que delas fazia parte. O meu mundo desabou. Eu não acreditei nessa pessoa. Achei impossível.
Fui confirmar e afinal era verdade. Começou-se a desbravar caminho e chegou a um ponto que eu ja não sabia, do que ela me tinha contado durante anos, o que era verdade e o que não era. Percebi que uma série de pessoas tinham deixado de falar comigo e eu nem sabia porquê.
Eu fiquei para morrer.
Achei que não era possível tal coisa, pois a ela tinha confiado a minha vida. E, naquele ponto, eu já não conseguia ouvir nada dela que não questionasse.
O tempo passou, eu não conseguia mesmo falar com ela. Ela, de quando em vez, enviava-me sms a pedir desculpas, e mais desculpas. E eu não conseguia acreditar nessas desculpas.
Até, que um dia, eu marquei um almoço para tentarmos resolver tudo. Ela ficou felicissima. No dia combinado desmarcou. Repetimos a marcação desse almoço mais de 15 vezes, neste último ano, e todas as vezes ela teve uma desculpa, em cima da hora, para não aparecer.
Eu voltei a desistir.
Depois de fazer o tal Curso de Cristandade, do qual já vos falei aqui, achei que este tormento deveria acabar. Ela já me tinha pedido desculpa tanta vez e eu mantinha-me intocável, ainda que já tivesse tentado encontrar-me com ela. Daquele curso retirei várias experiências, entre elas, a capacidade que nós temos de acharmos que nunca falhamos e que quando os outros falham sermos tão prepotentes ao ponto de quase os cruxificarmos.
Então, tomei iniciativa e disse, por sms, que queria acabar com esta distância de uma vez por todas, que tinhamos mesmo que nos encontrar e resolver as diferenças de uma vez por todas. Ela muito feliz, acatou e marcou um dia.
Ficou marcado para a terça-feira passada às 12h30. Nesse dia, às 10h ela mandou sms, novamente, com uma desculpa que não podia.
Começo a achar que ela não quer mesmo encarar-me.
Não sei...
Já não sei o que fazer. Se deixar a vida tomar o seu rumo, se continuar a insistir.